[CRÍTICA] Barbie

No atual cinema onde existe a criação de filmes sobre todo e qualquer tema – por mais sem sentido que ele pareça – pouco surpreende a produção de um longa sobre a boneca mais famosa do mundo, especialmente quando se tem Margot Robbie no papel principal (difícil sequer imaginar outra atriz senão ela para este protagonismo). Criada em 1959, Barbie surgiu (e se manteve) como a própria Vênus de Milo das bonecas, detalhe que a diretora Greta Gerwig lindamente nos apresenta em uma abertura à lá ‘Uma Odisseia no Espaço’.

Em Barbie, temos o tradução literal de “life in plastic it’s fantastic” com a Barbielândia, um mundo perfeito onde as Barbies reinam e vivem ao lado de seus Kens, até que a protagonista, como diz o próprio filme, “dá defeito”, e precisa sentir o choque de realidade ao ter pensamentos sobre morte e existencialismo. Parece – e é! – uma trama absurda, mas se torna um ótimo entretenimento quando se abraça o nonsense cômico oferecido.

Já disse e repito: Margot Robbie é perfeita no papel – assim como consegue ser em todos os seus trabalhos. As nuances dos olhos inocentes de sua Barbie passando por seu próprio senso de amadurecimento conquista qualquer espectador. E por mais que talvez Robbie mereça sim um espaço na próxima cerimônia do Oscar, seria uma hipocrisia da Academia que a esnobou em um trabalho tão bom quanto (até melhor eu diria) como foi no recente ‘Babylon’.

O elenco no geral cativa, seja nos diálogos teatrais, nas roupas coloridas ou nas coreografias musicais. Se Margot Robbie seduz, suas contrapartes Barbie não ficam atrás, Emma Mackey, Kate McKinnon e Alexandra Shipp agradam cada uma a sua maneira. Os Kens também fazem sua parte, em especial Ryan Gosling e Simu Liu, que cumprem seus papéis na trama, ainda que pouco relevantes no contexto geral.

Mas o foco aqui é como Greta Gerwig, diretora promissora dos tempos atuais, nos coloca ante à um ambiente completamente diferente do que se está acostumado em suas películas. Lady Bird (2017) e Adoráveis Mulheres (2019) carregam tramas sérias, concisas, de um dramático necessário, Barbie por sua vez é uma história cômica, podendo até ser descrita como um musical enfadonho. O que Gerwig jamais perde – ainda bem – é sua bela e afiada habilidade para defender o feminismo e criticar o patriarcado.

Fica visível que o intuito do filme como um todo é mostrar a independência da mulher, Greta tem um dom único para isto. E ainda que tal tema fique em segundo plano pelo fato de Barbie ser um show de luzes onde diálogos cômicos e cores extravagantes sobrepõe quaisquer outros assuntos que poderiam estar em pauta, o humor ácido ainda está presente em tela, mesmo que pouco aparente.

O roteiro de Noah Baumbach escrito ao lado de sua esposa (Gerwig) pouco arrisca, tendo apenas um ótimo momento em um ato final sentimental. Em resultado, Barbie pode ser visto como um trabalho mais abrangente de sua diretora, uma comédia bem feita, extremamente divertida e ainda sim com importantes coisas a serem ditas – por mais óbvias que sejam, embora acabe se concretizando em um filme onde a produção impecável, dos figurinos aos cenários (propositalmente) artificiais, consegue chamar mais atenção que a própria história.

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