Espetacular. O episódio com mais tempo de tela do Pennywise. A maldade está presente do início ao fim. Ainda assim, por ser o episódio final, ele deixa brechas e pontas soltas que simplesmente não precisavam existir — e isso acaba pesando.
Fica difícil engolir como um ser cósmico, tratado quase como um “deus”, consegue perder tantas vezes para crianças. Claro, entra o protagonismo — e também a “sorte do protagonismo”, onde ninguém realmente importante morre no último episódio. Além disso, elementos centrais da mitologia ficam sem respostas claras: a adaga capaz de matar Pennywise, a árvore poderosa vinda do espaço… tudo é apresentado como essencial, mas sem explicação concreta.
Os próprios selos que prendem a Coisa em Derry entram em contradição com a árvore. Quando os militares queimam o selo, teoricamente Pennywise estaria livre para fugir. Mas, ao invés disso, ele vai exatamente para o local onde pode ser derrotado. Narrativamente, isso não faz sentido.
Por outro lado, o ambiente do episódio é impecável. O nevoeiro, clássico do terror, cria uma atmosfera perfeita para Pennywise brincar de ser palhaço. A sequência na escola é brutal — o assassinato do diretor — e o momento no auditório, chamando todas as crianças para as luzes da morte de uma só vez, é puro horror.
Uma diferença clara em relação aos filmes é a forma como Pennywise usa os medos das crianças. Nos longas, ele se transfigura o tempo todo em diferentes manifestações do medo. Já na série, isso acontece mais nos primeiros episódios; depois que ele surge definitivamente como palhaço, vemos pouquíssimas outras formas. Em compensação, no final, temos um vislumbre de como a Coisa realmente é — algo próximo de um pássaro — com apenas o rosto de palhaço visível na cena final. Uma escolha excelente visualmente, mesmo que sirva ao bem do protagonismo na derrota.
Outro ponto que soa desconexo é o militarismo. A série dedica facilmente 50% do tempo a esse arco, para no final ele praticamente não servir para nada além de justificar os eventos do episódio final. É frustrante, porque parecia algo muito maior.
Apesar de tudo isso, o episódio é bom — mas, para mim, não é o melhor da série. O sétimo episódio continua sendo imbatível: a morte do Rich, o incêndio no bar e a origem de Pennywise entregam um impacto emocional e narrativo muito maior. Neste último capítulo, lembramos mais de cenas marcantes do que da história em si.
E que cenas. Rich mostrando o dedo do meio para Pennywise. A Coisa se conectando com o filme ao mostrar para Marge o filho que ela teria no futuro — Richie, aquele que derrotaria o monstro. A Senhorita Kersh revivendo o trauma de Beverly e o suicídio da mãe. E, para mim, o momento mais importante: o poder de Dick Halloran, entrando na mente caótica da Coisa e conseguindo confundi-la, deixá-la perdida, sem saber onde estava. Halloran é simplesmente absurdo de bom.
No fim, é um belo episódio de encerramento, mas não o auge da série. Ele deixa um gostinho de “quero mais” — e agora só resta esperar para saber quando virão novas temporadas. Ainda assim, sem dúvidas, Bem-Vindos a Derry se consolida como uma das melhores séries do ano, com uma das aberturas mais icônicas e comentadas da televisão recente.




























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