Park Chan-wook é aquele diretor que mesmo quando resolve brincar com os gêneros, ainda consegue deixar sua assinatura impressa como um selo de cera. Depois de obras que entraram para o panteão moderno — A Criada, Oldboy, Decisão de Partir — ele aparece agora com “No Other Choice”, uma comédia temperada com violência calculada e uma boa provocada sobre o papel do indivíduo na era tecnológica.
A história acompanha Yoo Man-soo (Lee Byung-hun), gerente veterano de uma empresa de papel que passa 25 anos desfrutando dos confortos e privilégios que o cargo lhe garante, uma vida perfeita, quase ilustrada em catálogo. Até que, de repente, o tapete é puxado e uma demissão o abate. Acostumado a um padrão que não pretende abrir mão, Man-soo recorre à “solução” mais improvável — e hilariamente desesperada — para recuperar seu lugar na indústria: eliminar seus concorrentes – literalmente.
A premissa já anuncia o nonsense, e Park se diverte com isso. Há momentos de comédia realmente inspirados, embora quem conheça o lado mais cruel do diretor talvez sinta falta de um toque mais visceral na violência. É como se ele tivesse apertado o freio de mão neste campo — e apertado forte. O ritmo, por sua vez, é lento. Não aquele “lento hipnotizante” de Decisão de Partir, mas um lento mais… maçante. O filme avança como um carro antigo subindo ladeira: chega lá, mas sempre num esforço meio arrastado, que retarda o impacto da própria sátira.

Mas se há algo irretocável aqui, é Lee Byung-hun. Conhecido mundialmente por Round 6, ele entrega uma performance impecável, carregando tanto o peso dramático quanto o lunatismo da trama com uma naturalidade desconcertante. E divide muito bem esse palco com Son Ye-jin (Pousando no Amor), que dá suporte sem jamais perder presença.
A crítica ao lugar do ser humano numa indústria movida por IA é relevante, claro. Mas uma vez que o filme deixa claro seu ponto, ele parece não ter muito mais a oferecer além disso. A sensação é que chegamos ao destino antes do tempo — e ficamos rodando o quarteirão.
No Other Choice não é um desastre, longe disso. É uma comédia eficiente, com boas risadas e momentos inspirados. Mas, colocada ao lado dos gigantes da filmografia de Park Chan-wook, acaba soando pequena, quase esquecível. Um filme simpático que brilha menos do que poderia — e que, no fim das contas, deixa a impressão de que o diretor tinha mais munição do que decidiu usar.
⭐ NOTA: 6/10









































Discussion about this post