O Exame Chunin é, para muitos fãs, o auge da primeira fase de Naruto. É o arco que entregou Rock Lee vs. Gaara, apresentou Gaara, Temari e Kankurō, expandiu o mundo ninja e mudou o tom da série para sempre.
Mas por trás desse momento épico existe um detalhe curioso e pouco conhecido: Masashi Kishimoto não queria escrever o Exame Chunin como um grande torneio.
Em entrevistas raras, como a concedida ao comediante Kobayashi em um especial da Fuji TV, o autor revelou uma história cheia de conflitos criativos, pressão editorial e improvisos que moldaram o arco mais marcante de sua obra.
A visão inicial de Naruto: nada de torneio
Quando começou a desenvolver Naruto, Kishimoto imaginava algo totalmente diferente: uma história focada em missões entre equipes, explorando aldeias, culturas e todo o universo ninja de forma gradual.
Ele não gostava da ideia de parar a narrativa para um torneio longo um clichê muito comum nos mangás shonen da época.
Segundo ele, esse tipo de estrutura poderia:
- quebrar o ritmo da trama
- deixar a história previsível
- limitar o desenvolvimento de personagens
- e reduzir o foco nas missões, que eram o coração da ideia original
Para Kishimoto, Naruto deveria ser mais “aventura”, menos “arena”.

A pressão da Shonen Jump: “Faça isso mesmo que te mate”
A visão tranquila de Kishimoto, porém, esbarrou na realidade da Shonen Jump, que precisava de algo mais explosivo para prender leitores semanais.
Seu editor foi direto: o mangá precisava urgentemente de um arco grande, cheio de personagens e batalhas individuais.
A intenção era clara:
- aumentar o ritmo
- introduzir novos ninjas rapidamente
- criar lutas que gerassem engajamento
- e transformar Naruto em um sucesso dentro da revista
Em uma das falas mais famosas atribuídas ao editor, ele teria dito:
“Faça isso, mesmo que isso te mate.”
Kishimoto, mesmo esgotado, acabou cedendo.

Criando personagens correndo: improviso, pressão e criatividade
Com a necessidade de colocar vários ninjas de diferentes vilas em um único arco, Kishimoto precisou criar rapidamente uma grande quantidade de personagens.
Ele admitiu que não tinha planejado nada tão grande e, por isso, teve de improvisar muita coisa.
Foi nessa fase que surgiram ideias inusitadas, influências aleatórias e até sugestões vindas do editor como os conceitos que acabariam dando origem a Rock Lee e Guy, inspirados, segundo relatos, até em objetos do escritório.
Cada luta, cada equipe e cada personalidade foi criada em ritmo acelerado, enquanto o autor tentava manter coerência na nova estrutura.
Quem venceria o Exame Chunin? Kishimoto já sabia
Uma revelação interessante: Kishimoto sempre teve um vencedor em mente Shikamaru.
Para ele, o ninja do QI 200 representava perfeitamente o que um Chunin deveria ser: estratégico, calmo, lógico e confiável.
Mesmo com a interrupção do torneio pela invasão de Orochimaru, o plano original permaneceu: Shikamaru seria promovido, exatamente como Kishimoto queria desde o início.

A invasão que não estava nos planos
Outro detalhe: a invasão de Konoha não fazia parte da versão original do arco.
A ideia foi novamente sugerida pela equipe editorial como forma de:
- elevar a escala da história
- introduzir Orochimaru como ameaça principal
- e transformar o exame em algo muito maior que um torneio
Kishimoto abraçou a ideia e usou esse momento para mergulhar a história em um clima mais sério, violento e inesperado algo que marcaria o tom futuro de Naruto.
O arrependimento e o reconhecimento
Anos depois, Kishimoto confessou dois sentimentos contraditórios sobre o Exame Chunin:
1. Arrependimento
Ele ainda desejava ter contado Naruto do jeito que imaginou inicialmente — explorando vilas através de missões, sem depender de um torneio.
2. Reconhecimento
Ele admite que o arco foi essencial para o sucesso da obra e que muitas das melhores ideias da franquia só surgiram por causa dessa mudança forçada.
Sem a pressão editorial, talvez nunca tivéssemos visto:
- Rock Lee tirando os pesos
- Gaara como antagonista
- A rivalidade entre Neji e Hinata
- Orochimaru invadindo Konoha
- Shikamaru brilhando como estrategista
- O mundo ninja expandir de forma tão rápida
O legado do Exame Chunin
Hoje, o arco é lembrado como um dos pilares de Naruto.
E é fascinante imaginar que ele nasceu não de vontade do autor, mas de um choque entre visão artística e necessidade editorial.
O resultado?
Uma das fases mais amadas da história do anime — e um exemplo perfeito de como a criação de um mangá é sempre um equilíbrio entre arte, improviso e pressão.
