Romances adolescentes poucas vezes carregam uma trama mais realista, alguns do gênero tentam fugir do comum, porém constantemente acabam correndo de volta para o clichê fraco. Crepúsculo, de 2008, é exatamente isso adicionado à uma fantasia modernizada que conta as aventuras “perigosas” do clássico estereótipo de jovem tímida e inocente com seu namorado marrento numa pacata cidadela americana.
Crepúsculo, adaptação do livro de Stephenie Meyer, conta a história de Bella Swan (Kristen Stewart), que após se mudar para a pequena Forks para viver com seu pai, conhece Edward Cullen (Robert Pattinson), um vampiro que, junto à sua família, vive em meio aos humanos apenas com sangue de animais. Nesta premissa nem um pouco original, a diretora Catherine Hardwicke nos joga numa narrativa cansada controlada por tópicos de um diário adolescente, se torna difícil levar o enredo a sério.
Hardwicke não colabora, sua direção é extremamente fraca, o longa sofre de uma montagem embaralhada, pouco eficaz e que confunde quando usa flashbacks desnecessários. Quase tudo é pobre, desde a trilha sonora que se esforça ao máximo para se acertar em alguma cena até a filmagem amadora que introduze takes viajados com ar de vídeos caseiros, nem mesmo as cenas de ação, os slow motions e as tentativas de plano holandês da diretora se salvam nesta produção furada. Imerso nisso, o roteiro de Melissa Rosenberg pouco ajuda, sua trama é superficial, sem coração e, se já não fosse muito, traz diálogos rasos e frases decoradas que penam para construir uma relação crível entre os protagonistas.
No todo, Kristen Stewart tem uma atuação simplória, embora sua própria personagem, Bella, seja em si uma garota tímida e recatada, a atriz não traz as nuances que o papel pede, sua performance é monótona e seu olhar cansativo está sempre presente no rosto de Stewart, que se apresenta como alguém de poucas expressões. A maquiagem exorbitante que empalidece os vampiros até funciona para os mesmos dentro da trama e da paleta de cores (mesmo que seja fora do natural numa visão mais realista), todavia, a mesma maquiagem utilizada em Bella é de pouco sentido, apenas revela mais do olhar morto de Stewart e nada contribui para as mínimas expressões dela
Robert Pattinson, ao menos atualmente, sabemos que é um ator de alta qualidade, e até mesmo na época já havia feito sucesso na cultura pop como Cedrico Diggory em Harry Potter (2005). Então, é de se questionar se a atuação exagerada e explícita de Pattinson como Edward Cullen vem do próprio ator ou se o mesmo fez apenas o que lhe foi pedido, os olhares intensos, a postura aberta que imita um animal feroz (mas funciona apenas no roteiro), são pequenos detalhes que deixam o personagem quase que cômico, um ser poderoso apenas querendo mostrar sua grandeza (que, mais uma vez, funciona só no papel).
Edward é um badboy arrogante clássico de romance jovem, um mero clichê adolescente. Chega ser engraçada a mania que o vampiro pop possui tentando ser uma criatura misteriosa para sua parceira, mas ao mesmo tempo implora para que ela descubra seus segredos, entregando as cartas aos poucos. A trama perde tanto tempo criando uma relação aceitável entre os protagonista que o espaço para os antagonistas é apertado, de maneira que os vilões da narrativa são empurrados no último ato do longa para dentro da história, que corre para apresentar um início, meio e fim para eles, nada muito bem feito, só um ponto frouxo criado pra dar um desfecho ao primeiro filme e um vínculo para sua sequência.
Crepúsculo, no fim das contas, é apenas um romance adolescente clichê exagerado desde atuações aos cenários frios com alta saturação, encanta em alguns personagens mas o casal principal tem uma química forçada que apenas ao longo do tempo realmente acontece. Cômico pode ser a palavra que define este filme possuidor duma trama desmensurada em todos os sentidos, o constrangimento alheio em suas cenas e falas amadoras é tão presente que só o que resta fazer nesses inúmeros momentos é rir.
