Darren Aronofsky sempre foi sinônimo de intensidade. De Réquiem para um Sonho ao visceral Cisne Negro, passando pelo sufocante Mãe! e o intimista A Baleia, sua filmografia costuma mergulhar o espectador em abismos emocionais, despindo personagens até sobrar apenas a vulnerabilidade crua. Com Ladrões, porém, o diretor parece ter deixado essa assinatura na gaveta, entregando algo que soa mais como um exercício de estilo — divertido, ágil e visualmente chamativo — do que como a experiência devastadora que seu nome geralmente promete.
A trama nos apresenta Hank (Austin Butler), um charmoso ex-jogador de beisebol que inesperadamente se vê envolvido em uma luta pela sobrevivência no submundo criminoso da cidade de Nova York dos anos 90. É o típico caso de “lugar errado, hora errada” que ensina evitar favores à vizinhos alheios. O roteiro funciona como uma bola de neve, sempre em movimento, sempre prestes a esmagar o protagonista — e é justamente nesse caos acelerado que o filme encontra seu ritmo.
O que poderia soar como vazio é bem maquiado. Aronofsky usa de uma comédia leve e cenas de ação coreografadas à la Guy Ritchie para distrair o espectador da ausência de maior profundidade. O resultado é divertido, mas exige do público uma certa boa vontade, principalmente no terceiro ato. Alguns acontecimentos soam convenientes demais, e o desfecho pede uma dose de fé que talvez nem todos estejam dispostos a conceder.
No quesito elenco, no entanto, Ladrões não deixa a desejar. Austin Butler é o centro das atenções, irradiando sex appeal a cada movimento — algo que os diretores parecem fazer questão de explorar desde Elvis e até mesmo na rápida ponta em Era Uma Vez em… Hollywood. Zoe Kravitz, Matt Smith e Regina King brilham como coadjuvantes sólidos, mas o verdadeiro destaque vem da dupla Liev Schreiber e Vincent D’Onofrio, que entregam mafiosos judeus tão magnéticos quanto imprevisíveis. Menção honrosa, claro, ao gato Bud, que rouba mais cenas do que muito humano e chega perigosamente perto de ser o verdadeiro protagonista.
No fim, Ladrões é um filme que diverte, mas que dificilmente ecoará como outros trabalhos de Aronofsky. Sua marca autoral parece dissolvida em favor de uma experiência mais leve, quase descartável, mas ainda assim recheada de boas sequências e atuações carismáticas. É entretenimento competente, embora não marcante.
NOTA: 3,5/5